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2003/07/09

Nacionalismo Burguês? 

Quarta clarificação — Os antigos comunistas chamariam a isto uma solução burguesa para problemas duma concepção também burguesa — e não apenas aburguesada — da política e dos seus mecanismos.
Refiro-o sem ironia e apenas porque é oportunidade para um esclarecimento mais, indispensável que o julgo para clarificarmos o sentido do nosso novo nacionalismo, do nacionalismo do futuro, que aos nacionalistas lúcidos da actualidade caberá gerar.
O nacionalismo não é classista, não implica privilégios nem marginalização seja de que estrato social for. Não deixa, apesar disso, de haver entre alguns que se consideram nacionalistas um sorriso escarninho e subentendidos desprimorosos para tudo o que chamam burguês e às vezes pequeno-burguês.
É preciso entendermo-nos sobre isto: um partido nacionalista não pode comungar no que chamarei o antiburguesismo primário de alguns. Pessoalmente, tenho naturalmente um enorme respeito pelos estratos sociais burgueses da sociedade, que serão ainda hoje e talvez desde há cinco ou seis séculos, se não mais, os estratos sociais por excelência criativos das sociedades ocidentais.
Pode ser que o sufrágio universal seja uma conquista da burguesia, mas nem por isso deixou de tornar-se uma conquista de valor universal. Quero voltar a sublinhar, pois, que um partido nacionalista europeu, actual e com futuro, tem necessariamente de considerar o sufrágio universal como uma conquista incontornável, a repor sempre que as circunstâncias o tenham minimizado ou corrompido.
Outro modo de ver condenaria os nacionalistas ao insucesso, mesmo se pensássemos que o sufrágio universal é apenas o “menos pior” dos métodos de formação e escolha da representação política.
Muitas das construções em sentido contrário em que alguns nacionalistas têm sido pródigos ou em que prodigamente têm comungado, não passam já hoje de meras fábulas, quantas vezes admiráveis, outras vezes muito menos, mas na realidade quase sempre não mais que fábulas.
Mas o sufrágio universal é, como quase tudo, repito, altamente susceptível de menorização e corrupção. O que acontece em todas as democracias que conhecemos e, em particular, na nossa, apesar de jovem, como lhe chamam os seus admiradores-detractores.
E será por isso tarefa dos nacionalistas, nossa, pois, mantermos uma vigilância permanente sobre os factores de degradação do sufrágio universal. O que, de outro modo, me leva a dizer que tem de ser preocupação própria dos nacionalistas nunca deixarmos de estar atentos à necessidade e responsabilidade de corrigir o funcionamento do sufrágio universal. Isso equivale a dizer corrigir a “democracia” que temos, no que ela tem de mais simplesmente essencial.
Ora, a desconfiança de tantos homens inteligentes e lúcidos, verdadeiros nacionalistas muitas vezes, a respeito do que acabo de dizer do sufrágio universal, radica principalmente, a meu ver, num equívoco perfeitamente compreensível, mas de origem histórica puramente circunstancial.
Já nos finais do séc. XIX, mas sobretudo desde a Grande Guerra (1914-18), a democracia e o sufrágio universal, com que era afinal identificada, acharam-se completamente descreditados. Saltava à vista de muitos a ameaça de morte que a democracia desacreditada — e com ela o sufrágio universal — representava então para a sobrevivência de muitos Povos.
Os melhores espíritos, na sua maioria, tinham pois por indispensável e mesmo vital combatê-los e reduzi-los a zero.
Compreenderam de pressa, muitos deles, que o nacionalismo então recém-sistematizado e teorizado, era a melhor arma que tinham à mão para combater, destruir e substituir o sufrágio universal.*
Daí ter-se confundido o nacionalismo como antítese do próprio sufrágio universal.
É um equívoco que aqui se desfaz com gosto e que podemos ultrapassar sem risco de princípio para o nacionalismo e as suas futuras encarnações políticas, os partidos nacionalistas à cabeça. Que não passam, por isso, a poder considerar-se partidos burgueses. O nacionalismo novo selecciona, recebe e adopta heranças vivas de todos os extractos sociais, mas não se esgota em nenhuma dessas heranças.

* Com as crescentes pressões e reivindicações de que o sufrágio universal se alargasse ainda mais, aos “iletrados”, às mulheres, etc., isso representava para muitos o agravamento do que a seus olhos já era um “mal” bastante. Radicalizar o nacionalismo pode ter-lhes oferecido o meio de vencer essa “ameaça” crescente.

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