2012/03/04
(Não) Nascer em Portugal
Cavaco Silva tomou a iniciativa de chamar vários cientistas, demógrafos e sociólogos à conferência "Nascer em Portugal", ou melhor "Não nascer em Portugal", porque o problema é que não se nasce, o que põe em causa a sobrevivência do País enquanto tal.
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/politica/portugal-precisa-de-mais-bebes
Pode ser uma boa iniciativa, se contribuir para colocar este tema crucial na agenda política e ajudar o Estado a deixar de sobrecarregar e penalizar as famílias com filhos, como tem feito de forma cínica e crescente nos últimos anos.
No entanto, a crise da natalidade não é exclusivamente, nem originariamente, um problema de falta de recursos financeiros ou rendimentos para sustentar os filhos, embora esse problema se tenha agudizado com a crise nos últimos 2 ou 3 anos.
Dizer que actual crise económica torna mais difícil sustentar filhos e, portanto, que pode agudizar ainda mais o declínio demográfico, não é mentir, mas é ficar aquém da verdade. Porque a verdade é esta: a natalidade começou a cair a pique há mais de 40 anos. Não é a crise dos últimos 2 anos que fez com que o Indíce Sintético de Fertilidade (ISF) descesse de 3,2 filhos/mulher em 1960 para 1,37 filhos/mulher em 2010, quando desde 1983 Portugal não renova gerações (ISF inferior a 2,10) e desde 1995 tem valores de ISF próximos dos que tem hoje. É evidente que a motivação para se chegar a este ponto não foi principalmente de carácter económico, tanto mais que, senão todos, pelo menos muitos, reconhecem que durante as últimas décadas os portugueses viveram melhor que noutras décadas anteriores. Portanto, a motivação económica não colhe. O que houve foi a criação de uma mentalidade, sobretudo a partir dos anos 60 e ao longo de várias décadas, em que os filhos passaram a ser encarados como uma opção que foi perdendo prioridade diante de solicitações profissionais, de realização pessoal ou até diante do juízo negativo de familiares, colegas e amigos; uma mentalidade em que um filho só tem valor na medida em que é desejado, podendo em certos casos mais extremos ser considerado um mal a eliminar e noutros muitos casos um objecto de consumo afectivo. De facto, pouco se fala do valor dos filhos por si mesmo. Uma vez criada a mentalidade é mais difícil superar as dificuldades estritamente económicas.
Contribuiu para se chegar a esta cultura a acção de políticos, e foram muitos, que ao longo de décadas maquinaram pelas legislações que penalizam as famílias com filhos, pelas várias ondas de legislação do divórcio, do aborto, de redefinição do casamento, etc. Tudo isto, além dos efeitos legislativos próprios e inediatos, gerou uma cultura, que desemboca no declínio demográfico.
Quem está de parabéns é a Associação de Planeamento da Família (APF) que labora no “birth control” desde 1967 e se bateu pelo “sim” à liberalização do aborto nos referendos. Talvez seja das poucas organizações que em Portugal consegue na íntegra os seus objectivos.
Vladimir Putin, que governa um País há muitos anos com uma taxa de natalidade baixíssima, tal como Portugal, e com elevados índices de aborto, ao contrário de Cavaco Silva, não tem dúvidas sobre o que há a fazer, propondo-se no seu manifesto social reduzir o aborto e premiar a maternidade/natalidade.
http://www.foxnews.com/opinion/2012/03/02/one-thing-putin-wants-russians-to-do-like-americans/#ixzz1o5eouOK2
manuelbras@portugalmail.pt
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/politica/portugal-precisa-de-mais-bebes
Pode ser uma boa iniciativa, se contribuir para colocar este tema crucial na agenda política e ajudar o Estado a deixar de sobrecarregar e penalizar as famílias com filhos, como tem feito de forma cínica e crescente nos últimos anos.
No entanto, a crise da natalidade não é exclusivamente, nem originariamente, um problema de falta de recursos financeiros ou rendimentos para sustentar os filhos, embora esse problema se tenha agudizado com a crise nos últimos 2 ou 3 anos.
Dizer que actual crise económica torna mais difícil sustentar filhos e, portanto, que pode agudizar ainda mais o declínio demográfico, não é mentir, mas é ficar aquém da verdade. Porque a verdade é esta: a natalidade começou a cair a pique há mais de 40 anos. Não é a crise dos últimos 2 anos que fez com que o Indíce Sintético de Fertilidade (ISF) descesse de 3,2 filhos/mulher em 1960 para 1,37 filhos/mulher em 2010, quando desde 1983 Portugal não renova gerações (ISF inferior a 2,10) e desde 1995 tem valores de ISF próximos dos que tem hoje. É evidente que a motivação para se chegar a este ponto não foi principalmente de carácter económico, tanto mais que, senão todos, pelo menos muitos, reconhecem que durante as últimas décadas os portugueses viveram melhor que noutras décadas anteriores. Portanto, a motivação económica não colhe. O que houve foi a criação de uma mentalidade, sobretudo a partir dos anos 60 e ao longo de várias décadas, em que os filhos passaram a ser encarados como uma opção que foi perdendo prioridade diante de solicitações profissionais, de realização pessoal ou até diante do juízo negativo de familiares, colegas e amigos; uma mentalidade em que um filho só tem valor na medida em que é desejado, podendo em certos casos mais extremos ser considerado um mal a eliminar e noutros muitos casos um objecto de consumo afectivo. De facto, pouco se fala do valor dos filhos por si mesmo. Uma vez criada a mentalidade é mais difícil superar as dificuldades estritamente económicas.
Contribuiu para se chegar a esta cultura a acção de políticos, e foram muitos, que ao longo de décadas maquinaram pelas legislações que penalizam as famílias com filhos, pelas várias ondas de legislação do divórcio, do aborto, de redefinição do casamento, etc. Tudo isto, além dos efeitos legislativos próprios e inediatos, gerou uma cultura, que desemboca no declínio demográfico.
Quem está de parabéns é a Associação de Planeamento da Família (APF) que labora no “birth control” desde 1967 e se bateu pelo “sim” à liberalização do aborto nos referendos. Talvez seja das poucas organizações que em Portugal consegue na íntegra os seus objectivos.
Vladimir Putin, que governa um País há muitos anos com uma taxa de natalidade baixíssima, tal como Portugal, e com elevados índices de aborto, ao contrário de Cavaco Silva, não tem dúvidas sobre o que há a fazer, propondo-se no seu manifesto social reduzir o aborto e premiar a maternidade/natalidade.
http://www.foxnews.com/opinion/2012/03/02/one-thing-putin-wants-russians-to-do-like-americans/#ixzz1o5eouOK2
manuelbras@portugalmail.pt
Etiquetas: Em Defesa da Vida