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2010/05/10

Desafios de Bento XVI 

Manuel Brás

Parece não haver dúvidas de que os grandes desafios que Bento XVI tem pela frente se referem ao esclarecimento, para dentro e fora da Igreja, essencialmente, de muitas coisas que dizem respeito à natureza da própria Igreja e aos fundamentos da moral cristã, em particular no que toca à sexualidade.

A observação pode, à primeira vista, parecer demasiado redutora, e até se pode arguir que a resposta para esses desafios deverá ser mais abrangente e não tão incisiva, mas a verdade é que têm sido estes os flancos escolhidos, ao longo das últimas décadas, para deturpar e minar a autoridade da Igreja na sua missão de ensinar. E a prova de que são questões importantes está na insistência e na voracidade com que são pasto das chamas dos críticos e dissidentes. E a estes factos talvez não se deva voltar a cara e fugir com medo ao embate, como parece ter acontecido em alguns sectores.

São, todos eles, desafios artificialmente empolados, porque a quem quiser saber a resposta e esclarecer-se não lhe faltam documentos escritos pelos últimos papas, incluindo os documentos do Concílio Vaticano II. O que parece suceder é que aqueles que invocam o Concílio Vaticano II para dar cobertura às suas coisas não leram ou não quiseram entender os seus documentos, redefinindo-o à imagem e semelhança dos seus interesses, pessoais e/ou colectivos. É um facto que quando alguém, a priori, não quer entender uma coisa, não há argumento que lhe valha. Certamente este é o caso de boa parte dos críticos em relação ao Papa e à Igreja.

Mas, vale a pena, independentemente da má vontade dos críticos e dissidentes, com que sempre é preciso contar, indagar o porquê da não aceitação de aspectos que se referem à natureza específica da Igreja e da moral sexual.

E aqui é difícil não reconhecer o alinhamento dessas pessoas com o “politicamente correcto”, com aquilo que no momento é bem visto pelas opiniões e ideologias da moda, pretendendo-se subordinar a Igreja e os seus ensinamentos à imagem e semelhança das organizações políticas e civis, como se a Igreja fosse um partido político, uma ONG ou um parlamento.

Ter filhos é mal visto? Então vamos dizer aos cristãos que não tenham filhos. O celibato dos padres é mal visto pela “opinião pública”? Então vamos dizer aos padres que se casem já. Há mulheres em todas, ou quase todas, as profissões na sociedade? Então também tem que haver no sacerdócio. Há legislação civil sobre o divórcio? Então a Igreja também tem que aceitar o divórcio. A lei civil acha que a homossexualidade é uma relação como qualquer outra? Então a Igreja também tem que achar e não pode criticar esses comportamentos. A legislação civil prevê o “casamento” de pessoas do mesmo sexo? Então a Igreja também tem que aceitar. A ONUSIDA, e outras organizações do género, acham que é distribuindo preservativos que se estanca a propagação de HIV/SIDA? Então a Igreja também tem que achar e não pode apontar outras soluções. O Richard Dawkins e os ateus acham que Deus não existe? Então a Igreja também tem que achar. Os darwinistas acham que a evolução é um produto do acaso, sem nexo nem lógica, sem princípio nem fim? Então a Igreja também tem que achar. E por aí fora...

No fundo, parece que o grande desígnio destes autoproclamados modernos é que os padres se casem, os casados se divorciem, e todos se acabem por transformar em homossexuais.

Urge, por isso, proteger a Igreja na sua liberdade de ser o que é, na singularidade da sua natureza, e de não se tornar mais uma organização civil ou política como tantas que há por aí.

Seja pelo combate e pela recusa à tomada de assalto por uma ideologia totalitária que a pretende pôr ao seu serviço, à semelhança da “teologia da libertação” nos anos 70 e 80, seja pela simples recusa da pretensão de algumas pessoas, críticas e dissidentes, moldarem a Igreja e os seus ensinamentos ao sabor das suas conveniências pessoais ou de grupo.

manuelbras@portugalmail.pt

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