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2010/02/05

Liberdade, Liberdade… e viva a palhaçada! 

Manuel Brás

Para o Sócrates a liberdade só é liberdade quando é a dele ou joga a favor dele. Não há liberdade fora dele.

Perante gente desta, apanágio da esquerda, que tem sempre a liberdade e a tolerância na boca, mas em mais lado nenhum, só há uma atitude correcta: desconfiar, desconfiar, desconfiar e nunca acreditar.

Quanto mais falam de liberdade e tolerância mais devem ser considerados aquilo que são: um gang de fanáticos e de tiranos.

Desta vez a vítima foi o Mário Crespo.



"O Fim da Linha

Mário Crespo

Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente.
A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno.
Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta.
Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”.
Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu.
Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.

Nota: Artigo originalmente redigido para ser publicado em 1/2/2010 na imprensa.



Mário Crespo termina colaboração com JN após recusa na publicação de artigo(01-02-2010)

O jornalista Mário Crespo vai abandonar a sua colaboração como colunista no Jornal de Notícias, depois de ter sido informado que a sua coluna semanal de opinião – onde revelava conversas hostis de membros do Governo - não ia ser hoje publicada no jornal.

O artigo em causa descreve conversas mantidas entre José Sócrates, o ministro da presidência, Silva Pereira, o ministro dos assuntos parlamentares, Jorge Lacão, e um executivo de media, onde os membros do governo se referiram a Mário Crespo como “mais um problema a resolver”.

Em declarações ao Negócios, o jornalista revela que foi informado à meia-noite de hoje, por José Leite Pereira, director do título, de que o artigo não ia ser publicado.

“Ficou assente a não publicação do artigo e que eu não voltaria a escrever num jornal sob a direcção dele [José Leite Pereira]”, diz Mário Crespo. Até ao momento, não foi possível entrar em contacto com o director do jornal da Controlinveste.

O jornalista adianta ainda que entrou em contacto com Zita Seabra, dona da editora Aletheia, e ficou acordado que no dia 11 deste mês será lançado um livro de crónicas intitulado “A última Crónica”. O livro arranca com o texto que não foi hoje publicado e é constituído ainda por outros artigos escritos por Mário Crespo para o “JN” e para o “Expresso”.

manuelbras@portugalmail.pt

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