2007/02/26
Neoconservador Arrependido
Tem sido recorrente em grande parte da imprensa, desde há um ano para cá, passar a tese de que o neoconservadorismo está em queda e enfrenta uma crise, em virtude de ser conotado com a guerra do Iraque. Não será por acaso: houve eleições intercalares na América em Novembro passado. Como não terá sido por acaso o incremento dos atentados terroristas e da violência sectária no Iraque ao longo de 2006. Continuará o Ocidente a acreditar que tudo isso é espontâneo e nada tem a ver com o Irão, cujo presidente quer “varrer” Israel do mapa?
Há umas semanas atrás foi a vez do último livro de Fukuyama ser dissecado na, agora, defunta revista “Dia D”, bem como a sua actual visão do neoconservadorismo.
Dessa recensão fica a sensação de que o neoconservadorismo é uma teorização ou ideologia justificativa da guerra, neste caso do Iraque, o que constitui uma notável imprecisão, fruto da confusão que o medo de Fukuyama de que o “neoconservadorismo se identifique com as políticas de George W. Bush” causou em certos espíritos.
A teorização à volta da guerra levada a cabo por alguns neocons prende-se com o facto da circunstância ter surgido, imprevisível e involuntariamente, com o 11 de Setembro e o terrorismo. Não fora isso e os neocons não falariam de guerra. Talvez de pipocas.
Existe, obviamente, quem se interesse por essa identificação, mas a política norte-americana – que tem sido tratada pelos media europeus e alguns americanos, como a BBC, a CNN, Time, ou “The Independent”, com as suas habituais distorções de “dois pesos e duas medidas”, que continuam a ocultar os crimes do comunismo e os efeitos da sua ideologia misantrópica – não esgota o acervo ideológico do neoconservadorismo, que, de resto, assenta nos mesmos princípios do conservadorismo: o realismo da condição humana, o respeito pelas estruturas históricas da sociedade (família, associações profissionais e culturais, municípios, Nação), liberdade e responsabilidade pessoal, primazia da iniciativa privada, governo e Estado reduzidos ao mínimo indispensável (“low government”).
Tudo isto é comum desde o paleoconservadorismo ao neoconservadorismo, passando pelo conservadorismo liberal e pelo conservadorismo compassivo.
A novidade do neoconservadorismo não é ideológica: assenta na sua combatividade e no facto do movimento neoconservador ter nascido nos anos 60 entre intelectuais desiludidos com a esquerda, provenientes do marxismo e até do trotskismo, como sucedeu com o seu principal fundador, Irving Kristol, que abriram os olhos para a realidade e descobriram que era muito diferente das utopias da esquerda, por causa das quais continuamos, ainda hoje, a penar na Europa.
Para Kristol, um neoconservador é um liberal submerso pela realidade. Nada mais.
Se Fukuyama tem medo que o nome se identifique com as políticas de George W. Bush, o conselho é simples: que mude o nome.
Manuel Brás
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