2005/10/31
As sondagens: que valem?
Não, não é isso que à letra pensam os meus leitores, o que quero dizer.
Todos leram as sondagens da Marktest (DN, TSF) para a eleição presidencial.
À 1ª volta Cavaco Silva teria 48,8% dos votos; Alegre 13,8%; Soares 10,3%; Louçã 5,3%; e Jerónimo de Sousa 4,3%.
Na 2ª volta, com Alegre, Cavaco Silva teria 57,2% e Manuel Alegre 29,6%.
Com Soares, Cavaco Silva sobe a 60% e Soares desce a 21,6%.
Mas, o mais natural parece ser que nem sequer chegue a haver 2ª volta.
Como aqui já disse, Cavaco Silva deve ter-se tornado ainda mais esmagador a partir da divulgação do manifesto da sua candidatura, tal a descabelada demagogia do mesmo, sob a aparência de simples lugares comuns ao alcance de toda a gente.
Realmente, estes números explicam que toda a esquerda esteja a esforçar-se insistindo em que Soares desista.
Há até já quem lhe sugira uma desculpa: que ele se candidatou só porque José Sócrates teimou com ele, Soares, para que se candidatasse, porque as sondagens eram péssimas para o poeta Alegre…
Não estaria mal, não senhores.
Claro que isso só “resolveria” o problema de Soares, não resolveria o problema do mal-estar da esquerda com os resultados das sondagens.
Por exemplo, Medeiros Ferreira, da comissão política da candidatura de Soares, teve esta deliciosa saída.
“Há qualquer coisa que não bate certo neste barómetro, porque a soma de todos os candidatos de esquerda pouco ultrapassa os 30 por cento. Não vejo a esquerda, que saiu das últimas eleições legislativas com 60 por cento dos votos, agora reduzida a pouco mais de 30 por cento.”
Que espantosa capacidade de auto-consolação!
Não lhe ocorre, por exemplo, que o eleitorado tenha compreendido que a esquerda está a desestruturar ou a destruir a sociedade portuguesa e, portanto, Portugal?
Também não lhe ocorre pelo menos outro trambolhão eleitoral parecido, da esquerda, ao longo destes 31 anos?
Nem terá pensado que o eleitorado, independentemente de outras razões, pode estar farto até aos cabelos do exclusivo de presidentes de esquerda destes 31 anos, todos cúmplices dos governos e do estado a que conduziram o País?
É quase natural que um político como Medeiros Ferreira não se aperceba de nada disto.
Um último comentário à sondagem.
Também atribui, pela primeira vez, um valor a uma eventual candidatura de Paulo Portas.
É certo que apenas de 1,7% dos votos.
E também é certo que o seu Partido, no concelho nacional deste fim-de-semana, recusou apoiar outro candidato que não seja Cavaco Silva.
Mas por 3/5 dos votos dos conselheiros nacionais, contra 2/5.
Por outro lado, para os interesses da direita nesta eleição, o crescimento actual das intenções de voto em Cavaco Silva só facilita a aplicação e êxito duma estratégia que defenda esses interesses em todos os “tabuleiros” do combate político.
Ora isso implica, penso, que apareça mais um candidato à direita, que não é um candidato para queimar, mas para forçar as explicações necessárias ao eleitorado – nunca tão necessárias como depois das duas intervenções de Cavaco Silva; e candidato, esse outro candidato de direita, que, mesmo derrotado agora, poderia ficar como grande reserva para o futuro e, desde já, como bandeira da tal “profunda reforma” urgente das instituições, de que se falou no conselho nacional do PP.
A.C.R.
Seia 30/10/2005
Todos leram as sondagens da Marktest (DN, TSF) para a eleição presidencial.
À 1ª volta Cavaco Silva teria 48,8% dos votos; Alegre 13,8%; Soares 10,3%; Louçã 5,3%; e Jerónimo de Sousa 4,3%.
Na 2ª volta, com Alegre, Cavaco Silva teria 57,2% e Manuel Alegre 29,6%.
Com Soares, Cavaco Silva sobe a 60% e Soares desce a 21,6%.
Mas, o mais natural parece ser que nem sequer chegue a haver 2ª volta.
Como aqui já disse, Cavaco Silva deve ter-se tornado ainda mais esmagador a partir da divulgação do manifesto da sua candidatura, tal a descabelada demagogia do mesmo, sob a aparência de simples lugares comuns ao alcance de toda a gente.
Realmente, estes números explicam que toda a esquerda esteja a esforçar-se insistindo em que Soares desista.
Há até já quem lhe sugira uma desculpa: que ele se candidatou só porque José Sócrates teimou com ele, Soares, para que se candidatasse, porque as sondagens eram péssimas para o poeta Alegre…
Não estaria mal, não senhores.
Claro que isso só “resolveria” o problema de Soares, não resolveria o problema do mal-estar da esquerda com os resultados das sondagens.
Por exemplo, Medeiros Ferreira, da comissão política da candidatura de Soares, teve esta deliciosa saída.
“Há qualquer coisa que não bate certo neste barómetro, porque a soma de todos os candidatos de esquerda pouco ultrapassa os 30 por cento. Não vejo a esquerda, que saiu das últimas eleições legislativas com 60 por cento dos votos, agora reduzida a pouco mais de 30 por cento.”
Que espantosa capacidade de auto-consolação!
Não lhe ocorre, por exemplo, que o eleitorado tenha compreendido que a esquerda está a desestruturar ou a destruir a sociedade portuguesa e, portanto, Portugal?
Também não lhe ocorre pelo menos outro trambolhão eleitoral parecido, da esquerda, ao longo destes 31 anos?
Nem terá pensado que o eleitorado, independentemente de outras razões, pode estar farto até aos cabelos do exclusivo de presidentes de esquerda destes 31 anos, todos cúmplices dos governos e do estado a que conduziram o País?
É quase natural que um político como Medeiros Ferreira não se aperceba de nada disto.
Um último comentário à sondagem.
Também atribui, pela primeira vez, um valor a uma eventual candidatura de Paulo Portas.
É certo que apenas de 1,7% dos votos.
E também é certo que o seu Partido, no concelho nacional deste fim-de-semana, recusou apoiar outro candidato que não seja Cavaco Silva.
Mas por 3/5 dos votos dos conselheiros nacionais, contra 2/5.
Por outro lado, para os interesses da direita nesta eleição, o crescimento actual das intenções de voto em Cavaco Silva só facilita a aplicação e êxito duma estratégia que defenda esses interesses em todos os “tabuleiros” do combate político.
Ora isso implica, penso, que apareça mais um candidato à direita, que não é um candidato para queimar, mas para forçar as explicações necessárias ao eleitorado – nunca tão necessárias como depois das duas intervenções de Cavaco Silva; e candidato, esse outro candidato de direita, que, mesmo derrotado agora, poderia ficar como grande reserva para o futuro e, desde já, como bandeira da tal “profunda reforma” urgente das instituições, de que se falou no conselho nacional do PP.
A.C.R.
Seia 30/10/2005